Totana, a cidade que passou do PSOE ao Vox em meio ano
22 de noviembre de 2019

Nas eleições de 28 de abril, o PSOE, de centro-esquerda, foi o partido mais votado em Totana, uma pequena cidade do sudeste de Espanha, com 23%. No entanto, quando os eleitores voltaram às urnas a 10 de novembro, o Vox conquistou 30,6% dos votos. No total, 4.029 residentes daquela cidade da província de Múrcia aderiram à mensagem do partido de extrema-direita.

Em pouco mais de meio ano, Totana tornou-se o único município governado pela Esquerda Unida, que foi a eleições integrado no Unidas Podemos, a votar massivamente no Vox

O presidente da Câmara daquela cidade, Juan José Cánovas, atribui a viragem a uma campanha do partido de extrema-direita baseada na disseminação de informações erradas. O Vox afirmou que a população migrante em Totana era superior à média nacional, lembra Cánovas. “É falso. 80% da população em Totana é espanhola”, corrige, em declarações à Euronews. O Vox disse ainda que os migrantes recebiam mais benefícios sociais do que os locais, o que também não é verdade, insiste. “Quase 70% do apoio municipal é concedido a espanhóis, enquanto a população estrangeira só recebe 30%.”

Em entrevista ao canal de televisão Cuatro, Cánovas reconheceu que alguma da população migrante também terá votado no Vox, acrescentando não ter uma explicação satisfatória para isso. Na sua página de Facebook, a secção do partido naquela cidade escreveu: “O presidente da Câmara comunista entende que não tem responsabilidade pelo facto de o Vox ter vencido em Totana. Com certeza… Como será possível as pessoas pensarem por si mesmas? Pobrezinhos! Seria melhor se o sistema fosse como na Venezuela, em Cuba ou na Coreia do Norte. Mas como não sabem, votam no Vox. São tão inocentes.”

As eleições de novembro foram convocadas depois de o primeiro-ministro em funções, o socialista Pedro Sánchez, não ter conseguido a investidura na sequência do ato eleitoral de abril, que o PSOE venceu sem maioria. De umas eleições para as outras, os socialistas voltaram a ganhar a nível nacional mas o Vox foi o grande vencedor da noite, passando de 24 para 52 deputados e tornando-se a terceira força política do Parlamento espanhol.

Vox, chega e «a fragmentaçao dos partidos de centro-direita»

O diretor do grupo de reflexão espanhol Civismo, Juan Ángel Soto, fala “num movimento pendular de partidos antissistema marxistas e de extrema-esquerda para partidos fortemente nacionalistas de extrema-direita”. “A extrema-esquerda foi bem-sucedida no início dos anos 2010, quando a crise económica atingiu a Europa. Foi o caso na Grécia, em Espanha (com o Podemos) e em muitos outros Estados-membros da União Europeia”, comenta ao Expresso. “Na realidade, os movimentos de extrema-esquerda estão agora a dar lugar à extrema-direita como resposta a desafios ainda não resolvidos”, acrescenta.

Numa análise mais abrangente à realidade ibérica, Juan Ángel Soto defende que “os fenómenos do Vox e do Chega emergiram por causa da – ou provocando a – fragmentação dos partidos de centro-direita (o PP em Espanha e o PSD em Portugal)”. “No entanto, eles são muito diferentes de outros movimentos políticos de extrema-direita na Europa. Em países como a Polónia, a Hungria e a Itália, os partidos políticos de extrema-direita conseguiram um forte apoio por causa da crise migratória e encaixam-se muito melhor do que o Vox ou o Chega na categoria populista-nacionalista”, conclui.

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